segunda-feira, 24 de maio de 2010

Amar vale a pena

Falar de amor é quase um vício. Perceba como boa parte de suas conversas, dos livros que você lê, das músicas que ouve tem a ver com isso. Os filmes, então, nem se fala. Nem o mais violento deixa de ter uma trama amorosa. Parece que a condição indispensável para sossegar o coração é encontrar alguém e compartilhar a vida. E isso parece cada vez mais difícil: o desencontro e a solidão têm sido uma marca desta época, em que as diferenças entre homens e mulheres ficam cada vez mais explícitas. Encontrar um grande amor pode ser, então, questão de pura sorte, uma manobra do acaso, mas na maior parte das vezes depende das escolhas que fazemos e de como alimentamos nossas expectativas. “O amor é revolucionário e exige que estejamos abertos para o novo, o inesperado. Quem procura alguém que se encaixe em seus parâmetros não quer um amor, mas apenas uma parceria para dissimular um vazio interno”, afirma o psicoterapeuta e escritor Alberto Pereira Lima Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Muita gente se diz pronta a viver uma experiência verdadeiramente intensa de amor, mas poucos se colocam disponíveis para isso.”

DE CORAÇÃO ABERTO
Essa atitude não acontece por acaso, mas por insegurança, medo ou apenas para defender o coração um dia rejeitado ou traído. A tendência é se retrair e guardar o amor a sete chaves, protegido por um muro de pedra. Em nossas fantasias românticas, podemos achar que basta estar flertando, seduzindo, nos mostrando disponíveis, mas na verdade estamos apenas na defensiva. Esquecemos que vale a pena mergulhar nesse sentimento, que dá substância à vida, sem ficar preso ao passado. “Muitas vezes nos mantemos afastados das pessoas, esperando que elas conquistem nosso amor. Esquecemos que é preciso dar amor e não apenas receber”, observa a escritora americana Marianne Williamson no livro Um Retorno ao Amor (ed. Novo Paradigma). É sempre bom lembrar que o amor é um sentimento de mão dupla, essencialmente baseado na troca de afeto, carinho e compreensão. Se você faz parte do grande grupo de pessoas que está só, briga com a solidão e tenta desvendar as artimanhas que levam ao amor, a primeira coisa a fazer é um questionamento.

OLHAR PARA DENTRO

Será que você deposita muitas expectativas sobre esse amor ideal? E assim aumenta suas exigências a ponto de o resultado quase sempre ser desilusão? “Não é nossa tarefa procurar o amor, mas buscar dentro de nós mesmos e superar todos os obstáculos que criamos para evitar que ele apareça”, resume Marianne Williamson. “Se isso não acontece, a tendência é escolher alguém inatingível, comprometido, por exemplo”, completa o psicólogo Ailton Amélio da Silva, autor do livro O Mapa do Amor (ed. Gente), de São Paulo.

Para que o amor floresça – e sobreviva –, é fundamental cultivar a aceitação e se dispor a experimentar conflitos. “Amar é desfrutar a deliciosa dificuldade de conviver com diferentes formas de agir, sentir e pensar”, define o psicoterapeuta Alberto Lima. “No entanto, tentamos anular as diferenças, forçando o parceiro a se adaptar a nossos moldes, sem perceber o mundo do ponto de vista da outra pessoa”, continua. “Essa abertura não significa abrir mão de nossos valores ou fazer tudo que o outro quer como garantia de amor. O importante é não ter a pretensão de usar critérios rígidos do que é certo ou errado, bom ou ruim. O que vale para um pode não valer para os dois.”

QUALIDADES E FRAQUEZAS
Boa parte dos problemas que surgem na fase de conquista ou no relacionamento nasce da frustração ao perceber que o companheiro não nos completa da maneira esperada. Segundo Marianne Williamson, se alguém não se comporta como um grande parceiro romântico, talvez isso signifique que ele não foi feito para assumir esse papel. “E isso não torna o relacionamento errado”, afirma. “Num casal em que os cônjuges se amam de verdade, o que um gosta no outro não é somente suas grandes qualidades mas também suas bobagens, suas fraquezas, seus defeitos”, confirma o teólogo e psicólogo francês Jean-Yves Leloup em seu livro Amar... Apesar de Tudo (ed. Verus).

Muitos desencontros começam quando prevalece o sonho de que vamos achar a cara-metade, um ser perfeito, que nos complete 24 horas por dia. Isso é impossível. “Para que haja uma aliança, é preciso dois inteiros. Amar outro inteiro é mais interessante do que amar outra metade”, afirma Leloup.

“Não podemos buscar no outro o que nos falta interiormente”, explica a antropóloga Miriam Goldenberg, escritora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Quando nos sentimos plenos e preenchidos em nossas necessidades, estamos prontos para compartilhar.”

QUESTÃO DE AUTO-ESTIMA
E o que fazer para ser inteiro? Para nos abrirmos para o amor, sem querer que o parceiro compense nossas frustrações ou nosso vazio interno, primeiro devemos aprender a amar a nós mesmos. “Com base em uma fundação forte de amor próprio, surge uma disposição natural de amar os outros sem cobranças e expectativas”, diz Ken O’Donnell, consultor, escritor e diretor para a América do Sul da Organização Brahma Kumaris, entidade voltada para a difusão de valores humanitários e espirituais, no livro Lições para uma Vida Plena (ed. Gente). A questão da auto-estima afeta especialmente as mulheres. “Por mais que a sociedade evolua e descarte preconceitos ultrapassados, ela ainda está condicionada a querer alguém mais – mais velho, mais alto, mais bem-sucedido –, como se alguém valorizado por suas qualidades pudesse conferir mais valor a elas mesmas”, explica Miriam Goldenberg. “Ao basear suas escolhas em critérios como aparência, status ou situação financeira, homens e mulheres correm o risco de se frustrar, pois nenhuma qualidade externa atesta o que alguém leva no coração ou sua capacidade de amar”, salienta Alberto Lima.

Os caminhos do amor podem ser tortuosos, indecifráveis, cheios de mistérios, mas vale muito a pena aceitar o desafio e seguir. “É só uma questão de nos despirmos de nossas crenças e novos valores arraigados, da rigidez, do conservadorismo, da teimosia”, diz o terapeuta Alberto Lima, concluindo: “Não tenha medo de amar, mesmo que isso já tenha causado sofrimento no passado, pois só o amor cura as feridas do amor”.

pesquisa:
http://bonsfluidos.abril.com.br/hotsite/relacionamento/relacionamento06.shtml

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